“Em
Setúbal, em 1954, tive uma outra experiência muito linda. Chegada à escola,
esperava que me destinassem uma turma quando o Diretor da escola nos entregou
uma caixinha com papelinhos «para escolher com quem haviam de ficar os alunos
da polícia».
Pensei
que eram filhos de polícias mas logo percebi que eram meninos que andavam pela
rua e a quem os polícias perguntavam que escola frequentavam. Se eles
respondiam que não andavam na escola, a polícia ia falar com os pais e ameaçava
que lhes retiravam o abono de família.
A
turma que recebi tinha tantos alunos que nem sequer fui obrigada a apresentar
serviço.
Os
alunos, carentes de afeto e de possibilidades monetárias, recebiam de forma
admirável toda a ternura que lhes era dada.
Havia
muita fome e as escolas não tinham cantinas. Muitos alunos roubavam.
Um
dia apareceu-me um aluno com um peixe grande para me oferecer, pelo que lhe
perguntei se o pai era pescador, ao que me respondeu: - Não, professora. Eu
roubei-o a um homem rico lá da lota para lhe dar a si.
Foi
muito difícil convencê-lo a levar o peixe e que não devia fazer isso.
Os
alunos eram obrigados a usar batas mas não havia dinheiro para os pais as
comprarem, e isto não era só na classe chamada da polícia. Era geral.
Tempos
bem difíceis, esses, mas valeu a pena os trinta e seis anos que vivi a ensinar
e a amar as crianças.”
É claro que valeram a pena esses anos dedicados, com certeza essas crianças transformaram-se em bons cidadãos, se não todos, um bom número deles, não?
ResponderEliminarÉ claro que vale sempre a pena.
ResponderEliminarMuito obrigado por nos visitar.Apareça mais vezes.
:)