O meu trisavô, Joaquim Mendes Bragança, participou na 1º
guerra Mundial como capitão do exército português e exerceu a função de 2º
comandante de batalhão.
Embora estivesse na guerra, manteve o contacto com a família,
pelo que escrevia cartas e mandava postais sempre que podia. Nestas dizia como
eram os seus dias, onde esteve e o que tinha feito.
Quando não estava em Paris, referia que estava em campanha
pois não podiam dizer a sua localização devido ao facto do inimigo poder
apanhá-las. O facto das cartas também passarem todas pela censura, redobrava o
cuidado com o que se escrevia.
São muitas onde encontramos referencias às fracas condições
de vida, desde o ponto de não se dormir até ao facto de uma pequena doença ser
fatal
«Quando estou nas trincheiras levo as noites de vela e quando
venho para a retaguarda todo o tempo é pouco para dormir.»
«Mesmo aqui um terço dos soldados ou estão nos hospitais ou
doentes aqui, são mais de 70 doentes que tenho entre 200 homens e não estão nas
trincheiras se lá estivessem não se aproveitavam meia dúzia.»
«(…)e quando me sentir doente baixo logo ao hospital porque
uma doença aqui mal curada era muito perigosa»
Apesar de tudo, dizia que se divertia com os seus
companheiros para poder esquecer o lugar onde estava, entretendo-se a falar com
uns e ouvindo outros a tocar instrumentos. Sempre teve esperança de que a
guerra ia acabar algum dia e que poderia voltar finalmente para a sua família,
pedindo também para não se preocuparem com ele.
«Olha ontem estiveram uns pouco de soldados a tocar guitarra
e viola e a cantar ao desafio lá na minha messe. Fartavas-te de rir se os
ouvisses. São cá da companhia e os instrumentos são feitos nas trincheiras com
o material de lá.»
«Talvez a guerra acabe brevemente. Ela alguma vez há de ter
fim.»
Margarida Gouveia, 9º D