Conheço
relativamente bem a obra do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado e tinha a
ideia de ter visto umas fotografias suas a propósito da revolução de Abril em
Portugal. Com o tempo deixei de ter a certeza à força de não as encontrar.
Fazendo
“escavações” na biblioteca, acabei por descobrir onde estavam. Trata-se de um
pequeno livrinho intitulado “Um Fotógrafo de Abril”, da editorial caminho,
editado em 1999 e destinado a comemorar o 25º aniversário do 25 de Abril.
Contém algumas fotografias de Salgado em 1974 e 1975, ao serviço da agência
fotográfica Sygma, precisamente com a missão de documentar o que se passava em
Portugal com a “Revolução dos cravos”.
Das várias fotos escolhi esta
porque sempre me perturbou. Trata-se da ocupação de um latifúndio por
trabalhadores agrícolas, em Alcácer do Sal em outubro de 1975.
O que me fascina nesta fotografia é a invulgar
capacidade do fotógrafo em captar a essência humana, neste caso, julgo eu,
materializada na ideia de existirem sempre duas formas de ver a mesma coisa.
Os ocupantes parecem o resultado de um erro de
“Casting”. Parecem vitoriosos mas ao mesmo tempo desconfortáveis nessa vitória
quando, contrariando tudo o que aprenderam, tomam posse de coisas alheias.
Na realidade o que Salgado captou foi a
incomunicabilidade desta espécie de duplo erro de casting. O cavaleiro, que
protagoniza os anteriores proprietários, também está desenquadrado.
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