O
meu avô materno chamava-se António Soares Baptista, nasceu a 28 de dezembro de
1939 e faleceu a 17 de setembro de 2014.
Aos
18 anos de idade o meu avô teve de fazer uma escolha muito importante na sua
vida: cumprir o serviço militar ou ir para a pesca do bacalhau.
A
sua opção foi ir para a pesca do bacalhau onde andou durante 9 anos em vários
navios passando por grandes tormentas.
Atualmente,
o meu avô, o meu bisavô e outros familiares encontram-se nos registos dos
“Homens e Navios do Bacalhau” no Museu Marítimo de Ílhavo e no Museu da
Marinha.
Ainda antes do Estado Novo, em 1927, foi promulgada a
primeira legislação pelos Governos da Ditadura Militar que isentava de serviço
militar os pescadores que fizessem seis campanhas consecutivas na Terra Nova.
Mais tarde, a forte vaga de emigração dos anos 60, a
natureza obsoleta da pesca à linha, no período coincidente com as guerras
coloniais em África, fizeram com que surgissem sérios problemas de
recrutamento. Era difícil formar as tripulações por falta de mão-de-obra. O
decreto de 1927 voltou a ser importante e “proporcionou a muitos homens um
dilema humano que hoje nos impressiona: embarcar num bacalhoeiro e escapar ou
ir para a guerra de África.
“Naquele tempo, quem fosse para o
bacalhau não ia para Angola, havia lá a guerra”.
Nas palavras de Zé Miguel, antigo
pescador da pesca do bacalhau: “A bordo iam cerca de 65 homens”. As viagens ao bacalhau
eram campanhas sazonais, cerca de seis meses, entre abril e outubro. “Dormíamos
dois a dois e a comida era sempre a mesma coisa: chá ou leite feito de pó,
grão, feijão e batatas. Foi assim a vida”, desabafa.
Era no rancho, à proa do
navio, onde se comia e dormia. Os pescadores dormiam vestidos, dois a dois
normalmente por relações de parentesco e o fogão estava sempre acesso para
aquecer os homens. Havia falta de água potável, “tínhamos uma caneca de água
por dia, para lavar a cara, as mãos e para beber”.
Os problemas de saúde eram frequentes
e os homens trabalhavam “até aos limites quando havia peixe e o tempo o
permitia, era um esforço sobre-humano”, afirma Álvaro Garrido(consultor
do Museu Marítimo de Ílhavo).
Esse trabalho permitia-lhes “a
possibilidade de um rendimento fixo e regular que as outras pescas não davam”,
explica-nos. Para a economia e vida social das comunidades marítimas
portuguesas, “foi um modo de vida importante que reflete bem o atraso do país,
a miséria social que grassava nas comunidades dos pescadores”.
Zé Miguel ainda se lembra do seu
primeiro ordenado, “foi 20 escudos por um quintal de bacalhau” ou seja, 12 mil
quilos de bacalhau.
David Calado 9º G
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